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escrevivência...

Escrever para sobreviver, um blog que surge em período de quarentena e que convida todos quantos gostem de escrever a participar, diariamente, em desafios de escrita criativa.

escrevivência...

Escrever para sobreviver, um blog que surge em período de quarentena e que convida todos quantos gostem de escrever a participar, diariamente, em desafios de escrita criativa.

Ter | 31.03.20

A cavalo dado, por Susana Silva

Mesmo que a cavalo dado, nem tudo o que reluz é ouro. E não fosse o pássaro na mão a galinha enchia o papo. Depois o gato escaldado morreu de velho, porque quem tem olho é rei, mesmo que seja quem ri por último. Certo é que uma mão lava a outra e nenhuma atira pedras ao vizinho, apesar de ser tempo de guerra e o mal vir a caminho. No final, mais vale quem Deus ajuda do que quem conta um conto e depois quem fala muito põe o rebanho a perder e se vem o pastor põe-lhe uma vara na mão e vê se os outros baixam as orelhas.

Para terminar, diz o roto ao nu que a galinha da vizinha é boa cozinheira, mas morreu solteira, porque a justiça tarda e a chuva fica até que fura. Disse-me que quem tudo quer não se recolhe depois de deitada e lava-se em casa, nem faz orelhas moucas às vozes de burro. Mas águas passadas e tudo fica bem porque ao bêbado e ao tolo põe-lhe Deus a mão por baixo.

Susana Silva

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Ter | 31.03.20

A cavalo dado, por Mafalda Soares Pinho

Dei-te tudo de mim. Dei-te as minha palavras, as minhas ações, os meus sentimentos. Dei-te tudo o que tinha. Criei sonhos, ilusões, fantasias. Fiz-te princípe de um reino das histórias encantadas, onde eu era princesa em apuros, com o perigo a amaldiçoar-me. Vi-te como salvação a todos os males do mundo, remendo do meu coração, a calma na minha alma. Dei-te tudo de mim e nada de mim quiseste. Não fui o suficiente no teu campo de emoções onde as flores que regas são de espécies inexistentes para além de ti. Dei-te tudo o que tinha e nada de mim aceitaste. Não preenchi o espaço em ti que tens decorado com espelhos adornados por imagens que nunca ninguém viu. Tudo de mim foi teu, até a minha própria vida pois, por longos meses, vivi para te ver sorrir ainda que, para isso, tivesse de reter as lágrimas num pranto silencioso, invísivel, disfarçado por palavras bonitas que só tu querias ouvir dizer. Tudo de mim, nada quiseste.

Mafalda Soares Pinho

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Seg | 30.03.20

Sertã ou frigideira, por Susana Silva

Casados de fresco e jovens, namoram sem parar.

Era amor, não fosse o ocaso de estarem juntos a cozinhar.

― chega-me a sertã. ― disse ela

E ele ficou a olhar, dando-lhe depois uma panela.

― Não é uma panela, é a sertã, se faz favor

Mas ele nunca tinha ouvido aquela palavra que lhe dava pavor.

É essa coisa redonda com um cabo na ponta

― É esta? ― pergunta ele, enquanto aponta

― pois que mais haveria de ser?! ― pergunta ela sem querer resposta

E ele fica com os nervos em franja à mostra

― Isso é uma frigideira, meu amor. ― diz ele num sentido clamor

E a colher de pau a voar

Bateu num testo que a fez parar.

E ele, perguntou saindo para a eira

Mas é sertã ou frigideira?

 

Susana Silva

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Dom | 29.03.20

meias no chão, por Mafalda Soares Pinho

Naquela manhã, o barulho da água do teu duche despertou-me de um sono que passei a sonhar. Já não sei com o que sonhei mas não deve ter sido nada de bom pois, naquela manhã, finalmente pensei em ti, em mim, em nós. Dei por mim a olhar para o prédio em frente ao teu, aquelas janelas tão bem alinhadas e, curiosamente, todas elas decoradas com cortinas de cores diferentes. Então reparei em como as tuas cortinas eram de cores diferentes, como o teu quarto era tão irritantemente bem decorado, com as cores semelhantes, nada a destoar, e os móveis tão bem alinhados como se alguém se desse ao trabalho de escolher, ao milímetro, o sítio onde pousá-los. Na cadeira do lado esquerdo da cama, descansava a tua roupa, impecavelmente dobrada; na cadeira do lado direito, não tão bem dobrada, jazia a minha roupa. No chão, a escassos centímetros daquele teu tapete tão felpudo e vistoso, estava um par de meias. As tuas meias. Totalmente desenquadradas naquela tela tão bem pintada. As tuas meias no chão e eu na tua cama, não pertencíamos a esse quadro. A água do teu duche continuava a correr longe de saber o que me ia na cabeça e eu vesti-me num segundo e quis sair como se nunca antes ali permanecesse mas cheguei à porta, pousei a mão na maçeta e tive de voltar atrás. Voltei ao teu quarto e peguei naquele par de meias, dobrei-o e pousei-o, qual flor delicada, em cima da tua roupa, na cadeira do lado direito. E então, sim, senti-me pronta para sair, mesmo, mesmo quando a água do teu duche se calou.

Mafalda Soares Pinho

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Sab | 28.03.20

Escrever diariamente

Por que razão alguém que quer escrever deve escrever diariamente? Pela mesma razão que um atleta deve praticar diariamente.

A escrita fortalece-se, melhora-se a cada texto, a cada pesquisa, a cada ideia, por isso é tão importante que o escritor desenvolva metodologias que lhe permitam escrever diariamente. Isso não significa passar o dia a escrever, pode-se escrever um pequeno texto, uma história ou uma reflexão, o importante é escrever.

A rotina de escrita diária é um dos elementos que permite combater o tão temido bloqueio do escritor e pode ser a solução para este problema. Quem dá os primeiros passos na escrita pergunta-me frequentemente sobre o que há-de escrever e a resposta é simples, deve escrever sobre qualquer coisa, escrever é o que é importante.

Mas atenção que escrever sobre qualquer coisa não pode ser escrever de qualquer maneira, estes textos devem ter a preocupação da correção linguística e, ainda que no início isto possa não ser a principal preocupação do escritor, é importante que este cuidado vá crescendo.

Se algum dia não souberem do que escrever sigam uma destas dicas:

  • Escreva sobre o seu dia
  • Faça um comentário a uma notícia do dia
  • Escreva uma carta a alguém com que gostaria de falar e não pode
  • Abra um livro numa qualquer página e leia as primeiras 3 ou quatro palavras e continue dali.
  • Descreva um momento feliz da sua vida
  • Procure exercícios de escrita criativa (como os que pode encontrar aqui no escrevivência)

Mas escreva sempre, ajuda-o enquanto autor e enquanto pessoa.

 

Susana Silva

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