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escrevivência...

Escrever para sobreviver, um blog que surge em período de quarentena e que convida todos quantos gostem de escrever a participar, diariamente, em desafios de escrita criativa.

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Escrever para sobreviver, um blog que surge em período de quarentena e que convida todos quantos gostem de escrever a participar, diariamente, em desafios de escrita criativa.

Dom | 07.06.20

O Caldo estava entornado, por Mafalda Soares Pinho

O caldo estava entornado naquele dia de sol, apesar de estar calor
eu não o sentia, e o dia deixou de ser verão. Ficou tudo de pernas
para o ar e as nuvens do céu passaram a ser as ondas do mar. O
vento parou, não mais assobiou, a noite ficou iluminada como se
a lua estivesse acordada. E eu adormecida pensei que não mais
fosses voltar, mas, olha bem para mim, e diz-me se dava para
acreditar. Um jardim de rosas passou a ser de cravos e eu, que não
sabia estar a sonhar, quis esconder-me num lago de sonhos
acabados. Sonhos acabados, desfeitos, interrompidos, desejos
inconscientes que no mundo pairam perdidos. E o caldo
entornado continuou à medida que o tempo ia passando, os
ponteiros não paravam, não sossegavam, enquanto o coração
continuava acelerado. Tique-taque, as horas não perdoam e, a
estrada que não te denunciava, numa imensa escuridão silênciosa
continuava. Por onde andarias tu? Eu não tinha como responder
mas, olha, finalmente há uma presença que me fez renascer.
Chegaste como numa história encantada, qual princípe, qual
herói, e eu esqueci tudo do que reclamava. A inquietude, o amor
destrói.

 

Mafalda Soares Pinho

mafalda soares pinho.jpg

 

Ter | 02.06.20

A tempestade, por Mafalda Soares Pinho

Quem me dera ser... A calma, o sossego. Aquela tranquilidade
que tantas vezes mencionaste sem nunca sequer estares perto de
saber que em mim mora a tempestade. Como aquela nuvem
cinzenta que no céu se passeia revolta e ameaçadora prestes a
estoirar numa dança de relâmpagos capaz de estremecer a
estrutura de qualquer coração, mesmo que seja como o teu, feito
de betão. Como aquele vento que assobia, aterroriza, capaz de
levar no ar o telhado que abriga qualquer alma, mesmo que seja
como a tua, imersa numa infinita calma. Porque eu sou... Um sol
que gela, uma chuva torrencial que não molha, um calor que não
aqueçe, uma lua que não dorme nem sonha. Sou, tempestade
territorial prestes a estoirar se não me acalmas no teu abraço;
temporal que nada tem de tropical, prestes a rebentar se não me
aconchegas no teu regaço. Eu sou a chuva, sou o vento, até posso
ser a trovoada, sou mudança de tempo, um clima adverso... Se
não me fizesses sentir amada.

 

Mafalda Soares Pinho