A tempestade, por Mafalda Soares Pinho
Quem me dera ser... A calma, o sossego. Aquela tranquilidade
que tantas vezes mencionaste sem nunca sequer estares perto de
saber que em mim mora a tempestade. Como aquela nuvem
cinzenta que no céu se passeia revolta e ameaçadora prestes a
estoirar numa dança de relâmpagos capaz de estremecer a
estrutura de qualquer coração, mesmo que seja como o teu, feito
de betão. Como aquele vento que assobia, aterroriza, capaz de
levar no ar o telhado que abriga qualquer alma, mesmo que seja
como a tua, imersa numa infinita calma. Porque eu sou... Um sol
que gela, uma chuva torrencial que não molha, um calor que não
aqueçe, uma lua que não dorme nem sonha. Sou, tempestade
territorial prestes a estoirar se não me acalmas no teu abraço;
temporal que nada tem de tropical, prestes a rebentar se não me
aconchegas no teu regaço. Eu sou a chuva, sou o vento, até posso
ser a trovoada, sou mudança de tempo, um clima adverso... Se
não me fizesses sentir amada.
Mafalda Soares Pinho