Abandonei-me, por Mafalda Soares Pinho
Abandonei-me. A caminho de mim, a caminho de ti, num vão de
escadas, no mais belo jardim. Deixei-me ficar. Estática, quieta, a
contemplar o nada, debaixo do sol quente, debaixo da chuva que
cai gelada. Vi-te partir. Contigo levaste a minha vontade, em mim
ficou uma lacuna, voltaram as vozes que gritam “será isto amor
ou será antes loucura?”. Abandonei-me. Num nada me tornei
quando deixei de lutar, quando não me permiti ver que foste sem
nunca queres ficar. Mas eu fiquei. Se me perguntares o porquê,
não saberei o que responder, palavras não existem, talvez não
quisesse acreditar que estava a acontecer. E fiquei a ver-te partir.
Nesse momento abandonei-me onde nunca poderei ser
encontrada, abandonei-me, esquecida, perdi-te. Tu no meio do
tudo, eu no meio do nada.
Mafalda Soares Pinho