Escrever para sobreviver, um blog que surge em período de quarentena e que convida todos quantos gostem de escrever a participar, diariamente, em desafios de escrita criativa.
Escrever para sobreviver, um blog que surge em período de quarentena e que convida todos quantos gostem de escrever a participar, diariamente, em desafios de escrita criativa.
O caldo estava entornado naquele dia de sol, apesar de estar calor eu não o sentia, e o dia deixou de ser verão. Ficou tudo de pernas para o ar e as nuvens do céu passaram a ser as ondas do mar. O vento parou, não mais assobiou, a noite ficou iluminada como se a lua estivesse acordada. E eu adormecida pensei que não mais fosses voltar, mas, olha bem para mim, e diz-me se dava para acreditar. Um jardim de rosas passou a ser de cravos e eu, que não sabia estar a sonhar, quis (...)
Quem me dera ser... A calma, o sossego. Aquela tranquilidade que tantas vezes mencionaste sem nunca sequer estares perto de saber que em mim mora a tempestade. Como aquela nuvem cinzenta que no céu se passeia revolta e ameaçadora prestes a estoirar numa dança de relâmpagos capaz de estremecer a estrutura de qualquer coração, mesmo que seja como o teu, feito de betão. Como aquele vento que assobia, aterroriza, capaz de levar no ar o telhado que abriga qualquer alma, mesmo que seja co (...)
Eu poderia pegar nas batidas do teu coração e delas fazer a mais bela canção. Poderia pegar no teu doce olhar e, com ele, ofuscar o mais intenso luar. Poderia, também, fechar-te num jardim e ter-te, ter-te, só para mim. E seria sempre primavera, seria como se não houvesse frio, aquele frio que me gela. Seria o nosso mundo, o nosso espaço, o mais belo, seria o nosso canto. Nesse jardim, adivinho o teu perfume espalhado pelo ar, como chuva de verão, como música das ondas do mar. E (...)
Comecei a amar-te no dia em que te abandonei e, como numa história escrita num livo, não sei onde te deixei. Ficaste parado, algures a caminho do coração, onde te abrigaste de algum medo, não sei, ou até da própria solidão. Não sei dizer se te deixaste cobrir por aquelas trevas que eu própria criei ou se fui eu, eu mesma, que realmente te abandonei. Se queres a verdade, acho que não teria coragem de te deixar, ainda por cima quando percebi que te estava a amar. Então como posso (...)
Vai! Como se não levasses o meu coração contigo, como se não provocasses as lágrimas que choro, como se não fosses o causador principal de tudo o que me corrói. Vai! Como se o dia de hoje não existisse, como se eu própria não existisse, como se o mundo fosse teu sem haver quem te resista. Vai mas primeiro deixa que eu veja a tua cara, que o brilho dos teus olhos me mate por uma vez, que o orgulho que tens trespasse a minha alma. E então podes ir! E eu fico, perdida como um grão (...)
Pensei ser a tua salvação, pensei ser o teu amparo, pensei ser o aconchego ao teu coração, o teu beijo, o teu abraço. Pensei ser a tua proteção e também o teu acolhimento, pensei ser a tua ambição, o teu porto de abrigo em qualquer momento. Mas afinal estava errada e não demorei muito a perceber, és tu a essência da minha alma, a salvação, o meu viver. Eu não seria tudo se tu fosses nada, e anjo tu és, caído de um céu que desconheço, deste- me o significado da palavra (...)
Anda, senta-te aqui ao meu lado, aqui mesmo, nesta cadeira, olha para mim e diz o que tens a dizer. Prometo que não vai haver discusão, não vai haver turbulência, eu só quero saber se é verdade que estás a morrer. Anda, não tenhas medo, estou serena como a lua e calma como o mar, no meu peito o meu coração bate mas já nem sei se é de ódio ou de dor. Ainda assim, podes vir, prometo que não vou chorar, se for verdade, quero que vás em paz, com boas memórias eu fico, o (...)
Foram caçar gambuzinos e voltaram de mãos vazias. As mãos vinham vazias mas o coração estava cheio. Cheio de alegrias como nunca antes estivera, naquela noite em que saíram, noite quente de primavera. Foram numa aventura, numa demanda, na brincadeira, não encontraram quase nada e voltaram sem tristeza. Sem encontram o que procuravam, afinal tinham tudo, a caça não deu em nada mas afinal tinham o mundo. O mundo era deles, não era de mais ninguém, se tinham um ao outro, porque (...)
Abandonei-me. Abandonei-me naquele dia em que o sol se escondeu, e, eu tive de me recolher no meu aconchego… Para me proteger, para proteger quem amo. O mundo mudou, e, eu abandonei-me… Deixei de fazer aquilo que tanto gosto. Essencial há minha sobrevivência neste universo que está a mudar todos os dias… Abandonei os abraços calorosos onde não são precisas palavras. Abandonei os beijos com sentimento que aconchegam o coração. Abandonei as caricias naqueles que acham que o (...)
Abandonei-me. A caminho de mim, a caminho de ti, num vão de escadas, no mais belo jardim. Deixei-me ficar. Estática, quieta, a contemplar o nada, debaixo do sol quente, debaixo da chuva que cai gelada. Vi-te partir. Contigo levaste a minha vontade, em mim ficou uma lacuna, voltaram as vozes que gritam “será isto amor ou será antes loucura?”. Abandonei-me. Num nada me tornei quando deixei de lutar, quando não me permiti ver que foste sem nunca queres ficar. Mas eu fiquei. Se me (...)